Por Que a Despedida é Tão Difícil?
E a saudade da nossa melhor versão que fica para trás.
Como a despedida te afeta?
Nos últimos dias, tenho feito muitas despedidas devido às minhas escolhas, e por isso senti a necessidade de escrever sobre isso.
Tenho me despedido de amigos, família, de casa, de lugares, situações cotidianas e de amores. Despedir-se sempre é difícil, e uma das partes sempre sai machucada. Esta semana me despedi da minha rotina, dos meus antigos objetos, da casa onde vivi por um ano, onde passei bons momentos e outros dolorosos. Foi um ano intenso.
A despedida está presente em nossas vidas desde cedo: quando trocamos de sala na escola, quando nos mudamos de casa, quando o bicho de estimação se vai, entre tantos outros momentos.
Às vezes, a despedida vem depois de um aviso; outras, de supetão. Cada uma gera uma dor diferente, mas a dor está lá. Vem forte, como um sopapo no rosto, como um soco no estômago ou como um alívio.
No último domingo, me despedi do meu relacionamento. Achei que seria mais fácil dizer adeus, mas doeu. Foi triste. Pensei em desistir da minha escolha, mas já havia tomado a decisão. No último abraço, as lágrimas brotaram sem esforço. Eu tinha prometido que não ia chorar, mas o corpo não acompanha todos os nossos desejos humanos.
A respiração de ambos dizia muito naquele silêncio sepulcral. Os olhares marejados eram o adeus sem palavras. A tentativa de não olhar nos olhos era um pedido de desculpas. E a efetivação desse pedido, seguido de “Tá tudo bem!”, foi mais dolorosa do que um soco.
Nos segundos que duraram o abraço, passaram sonhos futuros que seriam apagados, momentos maravilhosos, objetivos conquistados, viagens que fizemos — como um filme em velocidade 2x. Sim, da mesma forma que tantas vezes ela me julgou por assistir vídeos no YouTube.
Naqueles segundos, o desejo incontrolável de não sair dali era tão forte que tudo que pensei foi: por quê? Por que eu estava fazendo essa escolha, que estava me machucando e machucando minha companheira, mesmo ela sendo forte e não demonstrando?
No final, a resposta veio à tona, quando ouvi o portão fechar às minhas costas. Sem olhar para trás, entendi: era para eu não fazer ela sofrer, era para eu parar de sofrer, era para evitar uma eternidade de sofrimento juntos.
Tenho sentido medo do novo, mas o maior medo é continuar na mesmice pelo resto da vida. A mesmice que tem tirado meu sono, me feito chorar sem motivo aparente, me trazido pensamentos que não deveriam estar ali e que tantas vezes desejei que não existissem.
Acho engraçado ouvir alguém dizer que, quando termina uma série ou um livro, sente que essa despedida é dolorosa. Eu não sinto isso. Nunca tinha sentido essa dor da despedida, essa emoção incontrolável, o choro e a vontade de sair logo daquele momento para amenizar a dor, antes dessa despedida.
A despedida com meu pai doeu também, mas foi menos intensa. Foi momentânea. Eu sabia que estava me despedindo de alguém que infelizmente não existia mais. É totalmente diferente da despedida de alguém que estará vivo, longe, e que talvez te esquecerá mais rápido do que o contrário.
A despedida é a conclusão de um término, mas muitas vezes não de que nada mais irá acontecer após isso. Não! É a despedida para o início de um novo livro, uma nova série que trará novas sensações e pessoas em seu caminho. É a despedida de uma vida que não traz mais significado para uma que, mesmo sem o retorno financeiro desejado, proporcionará novos acontecimentos e situações inimagináveis.
Uma vez, vi uma entrevista com o escritor Fabrício Carpinejar. Confesso que nunca li um livro dele, mas a entrevista me tocou. Em determinado momento, ele diz que o que sentimos quando alguém morre ou na despedida não é saudade da pessoa, mas de como éramos com essa pessoa, quando estávamos com ela.
Você já reparou como é diferente com seu melhor amigo, com um colega, com seus pais e com seu parceiro(a)?
É isso. Na despedida, pelo menos para mim, percebi que fiquei triste porque aquela pessoa está partindo e levando com ela, mesmo sem querer, a melhor versão que fui com ela. Às vezes, é o cuidado excessivo que você tinha para agradar; outras, os memes bobos enviados que mais ninguém entenderia; ou até mesmo o “boa noite” recebido na hora exata em que o pensamento sobre aquela pessoa surgia na sua mente. É a ausência dessas versões que te fazem chorar, sentir dor e desejar que não termine.
Não sei se existe uma forma correta de se despedir. Sempre corri de despedidas, corri de finais. Nunca me apeteceu dizer para alguém o motivo do adeus, nunca julguei necessário — até este último domingo. A despedida com meu pai foi compulsória; não valeu.
Talvez a melhor forma seja como aconteceu com minha mãe. Não é um adeus, é um “até logo”. Mesmo sem garantia de nada, ela está aqui. Posso voltar ainda, apenas se algo de muito ruim acontecer. Mas, em um pensamento simplista e otimista, ela estará aqui, me esperando de braços abertos.
A despedida nos encaminha para o novo. É um fechamento de porta para um corredor que já tem outra porta em seguida.
Óbvio que dói, e vai doer durante a aventura. Não sou ingênuo ao ponto de dizer que, após o tchau, a dor nunca mais vai aparecer. Mas ela é necessária. O ciclo precisa ser fechado e explicado da melhor forma para que as partes não se sintam injustiçadas e, quem sabe, aquele adeus deixe uma fresta na porta.
Sabe aquela hora que você fecha a porta sem passar a chave? Só encosta. Quem sabe, um dia, um vento forte escancare a porta na sua frente, mostrando tudo o que aconteceu antes e só esperando você entrar novamente e continuar a história de onde ela parou? Quem sabe?
E para você, como são as despedidas? Conte nos comentários qual foi a pior, qual foi a mais fácil e suas estratégias para cada uma dessas despedidas.
Como essas despedidas te moldaram?
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Thiago — Mochilogia