Morar Com a Mãe: O Retorno
Como 30 dias de convivência me fortaleceram ainda mais para o meu mochilão?
E se você precisasse retornar à casa da sua mãe? (Caso já tenha saído, claro!)
Na casa da minha mãe, a palavra de ordem é organização e limpeza. Parece que você está em um local intocável, imaculado, e, a todo momento, o medo de fazer sujeira é iminente!
Ela já não berra mais “O DIA QUE EU MORRER VOCÊ VAI DAR VALOR!”. Agora, ela é uma "véinha" (como a chamo), calma e falante! É engraçado comparar a mãe de hoje com a mãe de 20 anos atrás, quando eu saí de casa. Naquela época, pensa em uma mulher estressada. Mas, também, mãe solteira de um adolescente e de uma criança... Não devia ser fácil. Hoje, o hobby é celular, assistir a filmes e fazer crochê. Ela está na fase de falar com a TV. Eu sempre dou risada e nunca vou me acostumar com isso.
Ela quer agradar o tempo todo e, por incrível que pareça, não pega no pé para lavar a louça. É sempre um: “Deixa aí, filho, depois eu lavo!”. Eu não deixo — às vezes, deixo, confesso. Aqui se destacam as toalhas cobrindo todas as mesas e balcões, os enfeites de parede por todo lado, o cheiro de limpeza que impregna o nariz e as “prantinhas” pela casa.
Quando falei do mochilão pela América do Sul para ela, a primeira coisa que disse foi: “Eu já sabia!”. Eu questionei: “Como?”. E ela respondeu: “Eu sou mãe, Thiago. Sinto essas coisas!”. Ai, ai... Minha mãe é médium e eu nem sabia! Ela não é de chorar, pelo menos não na frente de ninguém, mas disse que fica feliz e triste ao mesmo tempo: feliz por eu estar realizando um sonho e triste por eu ir para longe. Coisas de mãe, né?
Eu retornei para a casa da minha mãe porque entreguei a casa onde eu morava. Meus planos eram outros, mas a vida não tá nem aí para os seus planos. Aprenda isso. Mas foi uma escolha boa. Passar esses 30 dias aproximadamente com ela tem sido interessante, porque, nesses 20 anos longe, ela mudou, eu mudei, ambos mudamos para melhor.
Logo no primeiro dia, fomos a um churrasco de amigos dela. Ela dançou, cantou, pulou, e eu ali de lado olhando, pensando: "De onde vem tanta energia em uma mulher de 60 anos?". Eu já não tenho mais esse pique todo.
Uma característica engraçada é que ela não para de comer. Toma café da manhã, café antes do almoço, almoça, toma café da tarde e janta. Não sei como não engorda. Eu, com certeza, ganhei uns quilos por aqui.
É interessante ver o cuidado dela. Mesmo sendo um cara que cozinha, ela sempre faz questão de deixar o café da manhã e as outras refeições prontas para me agradar. E, quando falo que não precisa, que eu me viro, ela logo exclama: “PARA DE SER MAL-AGRADECIDO!”. Só risada.
Ela gosta dos momentos juntos. Coisas simples, como sentar para assistir a um filme e comer pipoca, ou almoçar e jantar juntos. Todo dia, ela chama nesses momentos. São horas de desabafo, de falar sobre qualquer assunto ou simplesmente de estar ali, presente.
As conversas têm sido sobre coisas básicas do dia a dia, nada muito profundo. Mas sinto que, quanto mais próxima estava a minha partida, mais ela ficava quieta. Talvez pensando que eu iria embora, não sei. Ou talvez só não quisesse entrar no assunto.
Agora só tenho duas mochilas. A primeira coisa que ela disse foi que eu deveria ter mais calças — só tenho duas jeans — e mais blusas, já que só tenho uma. A todo momento, ela quer que eu compre algo a mais, pois acha que vou ficar sem.
É curioso: ela diz que sempre foi um sonho dela viajar só com uma mochila também. Foi surpreendente, pois eu não sabia disso.
A nostalgia é o que mais vejo na minha mãe. Muitas vezes, ela traz à tona momentos que eu nem lembrava mais, como as artes que eu fazia quando criança, quando ganhei uma bicicleta e bati em um carro na primeira semana, ou quando quebrei o braço tentando ser o Superman em um escorregador. Tá, eu sei, parece que falta um parafuso na minha cabeça. Talvez falte, né? E, por isso, estou indo atrás do meu sonho.
Mas voltando à Dona Rose... Algo que acho engraçado é a quantidade de nomes pelos quais as amigas dela a chamam: Rose, Meire, Baixinha e tantos outros que eu nem lembro.
Essa é uma característica que eu invejo nela: onde quer que passe, ela faz amizades. Mesmo não sendo a pessoa mais comunicativa do mundo, ela consegue ser amável e está sempre pronta para ajudar.
Lembro que uma amiga dela veio ajudar na mudança dos itens que eu não consegui vender. Eu nunca conseguiria alguém para isso. Quando agradeci ao casal que ajudou, a senhora amiga dela me deu um abraço e falou: “Pela sua mãe, faço qualquer coisa!”. Achei uma amizade verdadeira. Depois lembrei que essa mesma senhora passou por um acidente de trabalho e ficou na UTI. Minha mãe ia constantemente visitá-la.
São esses momentos de dificuldade que mostram quem realmente está ao nosso lado. Isso faz crescer uma admiração e fortalece ainda mais os laços. Provavelmente foi o que aconteceu com elas.
Bonitinho ouvir ela falando que sempre vai me apoiar e estar aqui para me ajudar, se eu precisar. É bom ter esse lugar acolhedor. Às vezes, a vida de morar sozinho tira essa sensação da gente ou diminui. E, quando você vê que tem, sempre conforta o coração.
Ela não é a mãe mais melosa do mundo, e eu nem gostaria que fosse, mas é contagiante ver como ela demonstra amor com presentes, bolos, chocolates e pequenas gentilezas o tempo todo. É a forma dela de demonstrar amor.
Como disse anteriormente, tudo o que tenho agora se resume a duas mochilas, nada mais. Os objetos da minha casa foram todos vendidos ou doados. Tentei criar uma rotina de estudos de inglês, atividades do Mochilogia e pesquisa sobre YouTube e outras plataformas, enquanto era empanturrado de gordices aqui na casa dela.
Sempre que surge uma oportunidade, ela fala que vai me visitar no ano que vem, onde eu estiver. Se tudo ocorrer conforme meus planos, estarei no último país que desejo visitar na América do Sul nas próximas férias dela. Será legal ter ela lá comigo, eu mostrando um lugar totalmente novo. Espero que isso se concretize.
Para muitos, voltar para a casa dos pais é um retrocesso. Eu penso mais como uma tomada de impulso para correr e pular o precipício. Todos os momentos que passei antes da viagem, sendo mimado e tendo conversas durante as refeições, me deram mais força para seguir meu sonho.
Você, que está lendo este texto, se tiver seus pais ainda, diga que os ama. Mostre que se importa com eles. Como sempre digo, se eles erraram com você, foi tentando acertar. Tenha certeza disso!
E como meu pai uma vez me disse: “As únicas pessoas que sempre vão estar do seu lado serei eu e sua mãe!”.
Às vezes, não damos tanta importância aos nossos pais ou não percebemos que tudo é impermanente, inclusive eles. Depois que perdi meu pai, com 59 anos, em 2022, entendi isso e tenho tentado ser um filho melhor e dar orgulho para minha mãe. Nem sempre é possível, claro, mas, se você está tentando, pelo menos isso já é um bom sinal.
Siga seu caminho, mostre que estava certo para seus pais, caso eles duvidem, e viva intensamente cada momento.
Já disse “eu te amo” hoje para seus pais? Deixe nos comentários como você procura dizer essas palavras tão difíceis. Às vezes, cuidando, dando presentes ou simplesmente estando presente. Como é a sua forma de demonstrar amor pelos seus pais?
Nos próximos textos, trarei novos pensamentos, perrengues e aprendizados. Não deixe de seguir a newsletter do Mochilogia.
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Muito obrigado pelo seu tempo.
Boas viagens!
Thiago — Mochilogia
Sempre bom estar perto de quem quer o nosso bem, né? Tente, se for possível, trazer a sua mãe para fazer uma pequena perna do seu mochilão. Adapte um pouco esse período para ela curtir com você. Apenas uma sugestão. Acredito que será incrível para ambos!😉