Me inscrevi em um retiro de silêncio de 10 dias — e agora?
Relato pessoal de um mochileiro às vésperas de um retiro de meditação intensiva na Bolívia.
Você já fez um retiro?
Me inscrevi em um retiro Vipassana de 10 dias na Bolívia e quero compartilhar um pouco de como estou me sentindo antes dessa experiência. Depois que terminar, volto para contar como foi.
O que é um retiro Vipassana?
Um retiro de meditação Vipassana é uma imersão intensiva na prática de mindfulness e auto-observação, com foco na compreensão da natureza da mente e do sofrimento. Esses retiros geralmente duram dez dias e são conduzidos em absoluto silêncio, com o objetivo de desenvolver uma percepção mais profunda da realidade e promover a purificação mental.
E o que é Vipassana?
Vipassana, que significa "ver as coisas como elas realmente são", é uma técnica ancestral de meditação indiana redescoberta por Buda. A prática busca erradicar o sofrimento por meio da auto-observação e da percepção da interconexão entre corpo e mente. Ao observar as sensações físicas, o praticante aprende a identificar e dissolver as impurezas mentais, alcançando equilíbrio, amor e compaixão.
Por que decidi fazer um retiro?
Pratico meditação há cerca de 10 anos, mas sempre de forma intermitente — apenas quando sentia necessidade ou achava que me faria bem. Participar de um retiro sempre foi um desejo antigo. Queria me desafiar.
Curiosamente, eu estava lendo o livro Sobre a Vida e o Viver, e os autores falam sobre retiros e meditação. Decidi buscar por algum próximo da cidade onde estou na Bolívia. Para minha surpresa, encontrei um com início poucos dias depois da minha busca.
Me inscrevi meio que achando que não seria aceito. Mas, no dia 13/06/2025, recebi o e-mail de confirmação. Fiquei extasiado! Quis logo comprar a passagem, me preparar e entender tudo o que poderia fazer para não chegar lá totalmente cru. Respirei fundo e comecei a organizar minha mente.
Como estou me preparando
O primeiro passo foi adotar uma rotina próxima da que será exigida no retiro: acordar cedo, meditar, comer menos, evitar entretenimentos (celular, livros, escrever, TV etc.) e praticar o silêncio.
Acredito que o mais desafiador será me alimentar apenas até o meio-dia e após apenas com líquidos até o dia seguinte. Outro ponto difícil são as longas horas de meditação e os estudos de ensinamentos budistas.
Confesso: quando li todas as orientações para os participantes, bateu o medo. Vontade de desistir. Mas percebi que era a minha mente mimada buscando conforto. E eu não estou nesta viagem de férias. Para muitos, pode parecer fuga, para outros, um luxo. Mas a verdade é que essa viagem tem um objetivo muito claro: autoconhecimento.
O motivo por trás da jornada
Vivi muito tempo no piloto automático, acreditando naquele script: casar, estudar, ter um bom emprego, filhos, uma vida estável. Mas a vida não está nem aí para nossos planos.
Quando percebi, estava em um relacionamento estável, com um filho, formado, com um emprego razoável... e sentindo que aquilo não era para mim.
Viajar foi um despertar. Percebi que nem sabia do que realmente gostava. Essa jornada tem me mostrado isso — às vezes de forma dura, como a saudade da minha família, e outras vezes de forma extraordinária, como ao redescobrir meu amor por trilhas, algo que eu nem lembrava porque tinha deixado de fazer.
Por isso, essa oportunidade do retiro chegou em um momento simbólico: às vésperas dos meus 38 anos e em um país com o qual ainda não me conectei completamente.
Ansiedade e prática
O que tenho sentido mais forte agora é a ansiedade. Mas algo já começou a mudar: voltei a meditar — e estou superando meus próprios limites. Tenho feito 30 minutos pela manhã e mais 30 à noite. Antes, nunca passava de 15 ou 20 minutos por dia.
Não é uma competição comigo mesmo, mas é poderoso perceber que consigo ficar uma hora por dia em silêncio, imóvel, prestando atenção na respiração, no corpo e nos pensamentos (que, às vezes, são verdadeiros absurdos).
Atualmente, venho usando a técnica do escaneamento corporal: imagino um ponto de energia na testa e, lentamente, percorro cada parte do corpo até os pés. Também pratico meditação de gratidão e de observação dos pensamentos — sem julgá-los, apenas deixando que venham e vão.
Não sei qual será exatamente a técnica usada no retiro, mas essa tem funcionado para mim, então sigo praticando.
O grande momento se aproxima
Dois dias após escrever este texto, entro em modo offline total. No retiro, eles recolhem todos os itens de distração: celular, Kindle, diário. Não faço ideia de como serão meus dias lá. Mas sei de uma coisa: será mais uma experiência virginal, como diria o professor Clóvis de Barros Filho.
E você? Teria coragem de passar 10 dias em silêncio absoluto, sem celular, sem contato com o mundo, apenas com você mesmo?
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